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Como Atingir as Metas Climáticas Estabelecidas?

Em 21 de janeiro de 2025

Em busca do desenvolvimento econômico pleno, aumenta-se a degradação ambiental e o desequilíbrio ecossistêmico. Por conseguinte, hoje, o cenário ambiental se caracteriza pela intensificação dos gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera e o aquecimento global, ocasionando as mudanças climáticas e eventos climáticos extremos. A cada dia, sente-se mais os efeitos desse desequilíbrio. A exemplo, nos últimos anos, diversos estados e países decretaram estado de emergência climática. Cabe destacar que os efeitos desses eventos não se limitam aos danos ambientais, mas afetam a saúde da população, a biodiversidade e a tão preocupada ordem econômica. As mudanças climáticas geram problemas considerados sistêmicos e complexos, com fontes múltiplas e de difícil atribuição de responsabilidade (Souza; Corazza, 2017). Nesse sentido, determinam-se acordos internacionais e políticas para solucionar os problemas atuais. Contudo, questiona-se: o que deve ser feito para atingir as metas climáticas estabelecidas até aqui?

Acordos e Metas Climáticas

Conforme exposto, as consequências das mudanças climáticas são alarmantes e demandam ações concretas. Elas refletem a necessidade urgente de reverter os impactos das atividades humanas sobre o clima do planeta. Por isso, as ações devem ser orientadas especialmente para reduzir as emissões de GEE, de maneira integrada e coletiva. As discussões pelo clima ganham maior fortalecimento na Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (UNFCCC) através da Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente (Rio-92), em 1992. Como encaminhamento, os estados, denominados partes, deveriam se comprometer a combater as mudanças climáticas adaptando os processos tecnológicos e meios de produção. A partir disso, anualmente os estados se encontram nas Conferências das Partes (COP) para discutir sobre metas e ações a serem realizadas.

Histórico dos eventos e principais pautas climáticas

A primeira edição da COP foi em Berlim, Alemanha, em 1995. Considerou-se como um momento importante para iniciar as negociações de metas e prazos para redução das emissões de GEE. Em 1997, têm-se a COP-3, em Kyoto, Japão. Nesta, estabelece-se metas mais assertivas com o Protocolo de Kyoto. Com objetivo de reduzir em a emissão de GEE por países desenvolvidos, Japão, Estados Unidos e a União Europeia assumem as maiores reduções, sendo 6%, 7% e 8%, respectivamente. Durante a Cúpula Mundial do Desenvolvimento Sustentável, 2002, Durban, África do Sul, discute-se a implementação de fontes renováveis de fontes de energia e projetos de criação de mercados de créditos de carbono.

Apenas em 2007, em Bali, Indonésia, que se reconhece a importância das florestas para o equilíbrio climático. Também, estabelece-se o REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal). Durante a COP-21, no ano de 2015, em Paris, França, assume-se o Acordo de Paris (substituto do Protocolo de Kyoto). O objetivo deste documento é fortalecer o combate e reforçar a capacidade de lidar com os impactos do aquecimento global. Ademais, ajusta-se a meta para limitar o aumento de 1,5ºC na temperatura média global.

Últimas COPs

Em 2021, Glasgow, Escócia, na COP-26 fica estabelecido o fim do desmatamento e a redução da emissão de carbono até 2030. Já na COP-28, Dubai, Emirados Árabes, tratou sobre combustíveis fósseis e sistemas rumos à neutralidade climática. Aqui, destaca-se a participação efetiva de povos indígenas. Durante a COP-29, em Baku, Azerbaijão, cria-se o acordo de doação de países ricos para países em desenvolvimento para combater e mitigar a crise climática. Em complemento, determina-se regras para o mercado de carbono.

Apesar da importância de se discutir sobre o clima e diversos avanços até aqui, alguns encontros foram marcados pela frustração de resoluções consideradas pouco ambiciosas. A COP-30 está prevista para acontecer em Belém, no Brasil, sendo este um momento considerado importante para o país se firmar como peça-chave na agenda climática.

Participação brasileira para atingir as metas climáticas

As NDCs (contribuições nacionalmente determinadas) são metas de redução de GEE de cada país signatário ao Acordo de Paris. Para tanto, o Brasil se compromete a reduzir a emissão de GEE em 48% até 2025 e 53% até 2030. Com metas graduais, o país tem como objetivo alcançar emissão líquida zero até 2050. Além disso, o país conta com a elaboração do Plano Clima que tem como objetivo guiar a política climática brasileira, pautando-se em duas estratégias: 1) reduzir a emissão de GEE; 2) diminuir a vulnerabilidade frente aos eventos climáticos e mudanças do clima.

Cabe destacar que neste ano, durante o G20, o atual presidente do Brasil, Lula, destacou que os participantes do evento são responsáveis por emitir 80% dos GEE e reforçou a urgência em alinhar as NDCs para limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC. Sobretudo, demonstra que o Brasil tem buscado o seu protagonismo e se posicionado frente às pautas ambientais e climáticas.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) constituem uma agenda da ONU com objetivos e metas para promover os pilares da sustentabilidade: social, ambiental e econômico. Sendo assim, têm-se o objetivo #13: Ação contra a mudança global do clima. Para este, visa-se “adotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e seus impactos”. Entre as metas, aponta-se reforçar a adaptação dos riscos relacionados ao clima, melhorar políticas e estratégias e melhorar a educação. Além disso, implementar o compromisso de apoio financeiro de países desenvolvidos aos países em desenvolvimento e promover mecanismos de gestão mais eficaz em países menos desenvolvidos com foco em populações mais vulneráveis.

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Panorama nacional: quais metas estabelecidas foram atingidas até aqui?

Apesar de tantos objetivos e metas, a previsão é que a temperatura média do planeta continue a aumentar. Segundo relatório da ONU (2024), estima-se que aumente 2,6ºC em 2100 em comparação aos valores pré-industriais caso os compromissos para 2030 sejam atendidos. Caso não, a temperatura média pode chegar a 3,1ºC. Ou seja, o cenário atual é de frustração aos acordos das COPs, além de catastrófico. De acordo com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 2024, o progresso das metas do ODS#13 no Brasil apresenta uma evolução em relação a organização de indicadores. Segundo a Plataforma ODS Brasil, gerida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de pessoas afetadas pelas mudanças climáticas aumentou nos anos de 2020 e 2021 e diminuiu nos anos subsequentes.

Além disso, 47% dos governos locais brasileiros adotam estratégias de redução de risco de desastres. Em relação a emissão de GEE, entre 2005 e 2010 houve uma redução expressiva na emissão de GEE. Contudo, nos 5 anos seguintes, ocorreu um aumento considerável, que apresentou oscilação entre 2015 e 2020. Dessa forma, demonstra-se que, apesar da diminuição significativa na emissão de GEE, o Brasil não tem mantido uma constância para frear tais emissões. Ademais, o desmatamento é um grande ponto de atenção do país, especialmente na região da Amazônia Legal. A transição energética para fontes renováveis e limpas é promissora, com grande participação das energias hidráulica, eólica e solar.

Ações para atingir as metas climáticas

O modelo econômico e social precisa se adaptar para alcançar a neutralidade de carbono. Isso significa que deve-se equilibrar as emissões de GEE provenientes de atividades humanas com a quantidade de carbono removido da atmosfera por meio de processos naturais (como florestas e solos). No entanto, para atingir essas metas são necessárias políticas assertivas, propostas de soluções baseadas na natureza, além da adesão da sociedade. Hoje, as atividades que mais intensificam as mudanças climáticas são as que devem passar por mudanças mais significativas, sendo: energia, transporte, agricultura, indústria e uso da terra.

Para o setor energético, espera-se uma transição acelerada para uma matriz renovável e limpa, aumento da eficiência energética e a garantia de acessibilidade a essas fontes. O setor de transporte é um dos que mais contribui para as emissões de carbono, especialmente pela queima de combustíveis fósseis. Atualmente, destaca-se a adoção de veículos elétricos como solução. Contudo, reforça-se a necessidade de ser uma possibilidade acessível e viável, demandando infraestrutura adequada para recarga do veículo, por exemplo.

Além disso, o planejamento urbano é um aliado para diminuir a dependência ao uso de veículo, incentivando o uso de bicicletas, patinetes ou o hábito de caminhar. O setor agrícola associa-se ao uso da terra, uma vez que é grande responsável pelo uso de fertilizantes químicos e do desmatamento, além da liberação do metano. Por isso, a implementação de cultivos mais sustentáveis, como a rotação de cultura e sistemas agroflorestais, diminuem esse impacto negativo. Enquanto o setor industrial deve priorizar a otimização do consumo de energia, investindo em tecnologias mais eficientes, sistemas de recuperação de calor para reutilizar a energia gerada nos processos e a transição energética limpa.

Ações individuais para atingir as metas climáticas

A responsabilidade para atingir as metas climáticas não se restringe aos órgãos superiores e coletivos. Mas também recai sobre os indivíduos que vivem e consumem sociedade. Portanto, o modo de vida pode fortalecer ou desestimular a produção e processos que mais emitem GEE. Nesse sentido, é importante priorizar meios de transporte sem emissão de GEE, reduzir o consumo de carnes e, ainda, fazer escolhas mais sustentáveis, visando:

  • reduzir o consumo de plásticos oriundos de processos petroquímicos;
  • prolongar a vida útil de materiais (reutilizar e reciclar);
  • reaproveitar os resíduos orgânicos como compostagem;
  • priorizar o consumo de produtores locais e orgânicos.

Estes são alguns exemplos de ações que podem fortalecer e atingir as metas estabelecidas. Nesse sentido, cada escolha tem o poder de contribuir para um futuro mais sustentável e equilibrado. Dessa forma, é necessário que cada um faça sua parte, transformando atitudes do dia-a-dia em ideias práticas que fomentem o equilíbrio ecossistêmico. Junto a isso, deve-se sempre cobrar os órgãos competentes para viabilizar tais escolhas.

Conclusão

Atingir as metas climáticas exigirá uma governança global forte e a cooperação internacional em todos os níveis. O Acordo de Paris foi um marco importante nesse sentido, pois estabeleceu metas de redução de emissões para todos os países, independentemente de seu nível de desenvolvimento. Entretanto, os compromissos precisam ser mais ambiciosos e os países devem ser incentivados a revisar e atualizar suas metas periodicamente. Concomitante, a colaboração entre países desenvolvidos e em desenvolvimento é fundamental, principalmente no que diz respeito ao financiamento climático. Cabe pontuar que as ações individuais também são importantes. Para evitar os piores cenários de mudança climática, é necessário agir agora, com medidas concretas e urgentes. Em suma, as ações a serem realizadas já estão previstas, agora é necessário que todos trilhem os passos necessários para garantir um futuro habitável para as próximas gerações.

Referências:

Instituto Socioambiental. Timeline COPs. s/d.

IPEA. Agenda 2030: avaliação do progresso das principais metas globais para o Brasil. 2024.

Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Plano Clima. s/d.

ONU. ODS #13. s/d.

ONU. Relatório da ONU mostra que mundo está na “corda bamba” do clima. 2024.

Souza; Corazza. Do Protocolo Kyoto ao Acordo de Paris : uma análise das mudanças no regime climático global a partir do estudo da evolução de perfis de emissões de gases de efeito estufa. 2017.

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Autor(a)

Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), professora de Ciências da rede pública e redatora do Mata Nativa. Guiada pelos pilares da sustentabilidade, acredito que a Educação Ambiental seja a chave para a transformação e formação de cidadãos mais críticos e engajados com as pautas ambientais. Atuei com o desenvolvimento de planos setoriais urbanos e criação de cursos para comunidades tradicionais. Também participei de projetos de extensão, organizações não governamentais e dediquei-me a realizar pesquisas sobre Unidades de Conservação e Educação Ambiental.
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