Cada bioma possui suas particulares quanto ao microclima, fitofisionomia, solo, relevo, altitude, dentre outros. Ainda, dentro de um mesmo bioma, a vegetação caracteriza-se quanto às suas diferentes tipologias florestais. Dessa forma, para uma coleta acertada das variáveis florestais é válido compreender as características intrínsecas da vegetação, isto é, conhecer o bioma antes do Inventário Florestal.
O que é um bioma?
Bioma é uma unidade biológica ou espaço geográfico cujas características específicas definem-se pelo macroclima, fitofisionomia, solo, altitude, dentre outros critérios. São tipos de ecossistemas, habitats ou comunidades biológicas com certo nível de homogeneidade.
O Brasil é formado por seis biomas de características distintas: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Cada um desses ambientes abriga diferentes tipos de vegetação e de fauna. Como a vegetação é um dos componentes mais importantes da biota, seu estado de conservação e de continuidade definem a existência ou não de hábitats para as espécies, a manutenção de serviços ambientais e o fornecimento de bens essenciais à sobrevivência de populações humanas.
As florestas brasileiras, distribuídas pelos biomas com características particulares, ocupam aproximadamente 61% do território brasileiro e desempenham importantes funções sociais, econômicas e ambientais. Estas áreas ofertam uma variedade de bens, como produtos florestais madeireiros e não madeireiros. Também, as florestas prestam serviços ecossistêmicos essenciais, por exemplo, a conservação dos recursos hídricos e edáficos, a conservação da biodiversidade, a estabilidade climática, além de possuir valores culturais.
Ademais, dentro de cada bioma, encontramos diversos tipos de formações florestais (tipologias florestais). Dessa forma, para compreender a importância de se conhecer o bioma antes do inventário florestal, também faz-se necessário entender a diferença entre os conceitos de bioma e tipologia florestal.
Diferença entre bioma e tipologia florestal
Em síntese, a explicação do termo “tipologia florestal” consiste no conjunto de atributos que possibilitam reconhecer e delinear a construção de uma determinada vegetação dentro de um bioma. De forma simplificada, pode-se inferir que, dentro de um único bioma podem haver diferentes tipologias florestais.
Segundo o IBGE, a classificação dos tipos de formações florestais dá-se pelo Sistema Primário Natural, que apresenta uma hierarquia de formações florestais, sendo detalhadas primeiro pela fitossociologia e em seguida por estudos ecológicos. Nesse sistema estão incluídos todos os tipos de vegetação ou Regiões Fitoecológicas Brasileiras, as Formações Pioneiras, os Refúgios Vegetacionais e as faixas de Tensão Ecológica entre duas ou mais Regiões Fitoecológicas.
O Serviço Florestal Brasileiro, por sua vez, considera como floresta, as tipologias de vegetação lenhosas que mais se aproximam da definição de florestas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Tais tipologias correspondem às seguintes categorias de vegetação do Sistema de Classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):
- Floresta Ombrófila
- Floresta Ombrófila Densa;
- Floresta Ombrófila Aberta;
- Floresta Ombrófila Mista;
- Floresta Estacional Semidecidual;
- Floresta Estacional Decidual;
- Campinarana (florestada e arborizada);
- Savana (florestada e arborizada) – Cerradão e Campo-Cerrado;
- Savana Estépica (florestada e arborizada) – Caatinga arbórea;
- Estepe (arborizada);
- Formações pioneiras
- Subformação Aluvial
- Subformação Terras baixas
- Subformação Submontana
- Subformação Montana
- Alto-montana
- Áreas de tensão ecológica
- Refúgios Vegetacionais
- Fácies.
Como funciona a classificação?
A exemplo, no estado de Minas Gerais, as diferentes formas de relevo, somadas às especificidades de solo e clima, propiciam paisagens muito variadas e recobertas por vegetações características. Essa diversidade resulta no domínio de três biomas brasileiros: o Cerrado, a Mata Atlântica e a Caatinga. Assim, podemos classificar cada um dos três biomas, quanto as tipologias florestais:
- Cerrado: 19,94%
– Campo: 6,60%
– Campo cerrado: 2,56%
– Cerrado Sensu Stricto: 9,48%
– Cerradão: 0,61%
– Veredas: 0,69% - Mata Atlântica: 10,33%
– Campo Rupestre: 1,05%
– Floresta Estacional Semidecidual: 8,90%
– Floresta Ombrófila: 0,38% - Caatinga (Floresta Estacional Decidual): 3,48%
Mas, qual a importância de conhecer o bioma antes do inventário florestal?
Primeiramente, vamos falar sobre as atividades em campo. Conhecer o bioma em que irá trabalhar, antes do inventário florestal, pode ajudar a prever alguns dos desafios que serão vistos em campo. O porte das árvores, a densidade e até mesmo alguns dos riscos. É claro que, em um mesmo bioma pode se encontrar condições diferentes. A exemplo, o acesso em algumas florestas pode ser mais fácil que em outras. Também, a realização da coleta de informações, como a altura, pode ser melhor viabilizada em função das características da vegetação (sabemos que em florestas muito densas, essa tarefa não é fácil). Contudo, de modo geral, a partir do conhecimento prévio das características do bioma é possível fazer algumas previsões.
Outro ponto importante é em relação ao reconhecimento das espécies. Algumas espécies são comuns em determinados biomas, ou específicas de um tipo de vegetação. A saber, a compreensão quanto o tipo de vegetação já fornece algumas dicas sobre quais espécies poderão ser encontradas. Aqui, cabe destacar que, a identificação de espécies requer muita experiência e é um dos maiores desafios dos consultores atualmente.
Diante do cenário de diversidade e importância do inventário florestal, vale destacar as distintas dificuldades encontradas para os diferentes biomas, como exemplo, a Amazônia e o Cerrado.
Dificuldades do inventário florestal na Amazônia
No bioma Amazônia, uma das maiores dificuldades do inventário florestal está na logística de campo e no acesso às diferentes áreas, que podem ser isoladas e exigem muito conhecimento dos moradores locais para serem acessadas.
Além disso, outra problemática enfrentada está relacionada com a altura das árvores, que não é mensurada em campo. Para tal, utilizam-se modelos matemáticos que estimam essa variável. Ainda sobre a altura das árvores, esta implica também em uma dificuldade para a identificação dos indivíduos arbóreos, uma vez que a difícil visualização da copa prejudica o reconhecimento dos mesmos.
Diante da dificuldade, para a identificação das espécies, a técnica mais utilizada é a escalada, que dá acesso às copas e permite a coleta do material botânico necessário para a identificação. A escalada geralmente é feita por rapel ou peconha, enquanto que, o uso de garras já não é muito utilizado.
Dificuldades do inventário florestal no Cerrado
No Cerrado, algumas das dificuldades encontradas se dão em função da presença de árvores tortuosas e com múltiplos troncos, oriundos de um extenso sistema radicular sob o solo, ao qual dificultam por vezes a diferenciação de um ou mais indivíduos. Além disso, algumas espécies nativas do bioma (conforme a tipologia florestal) não chegam a atingir a altura recomenda de 1,30 m do solo.
A depender do objetivo do inventário florestal, para a mensuração das variáveis florestais nesse tipo bioma, os parâmetros são diferentes daqueles aplicados em florestas. Em suma, recomenda-se medir o diâmetro a 30 cm do solo, com o uso de suta ao invés de fitas. Esta metodologia está atrelada ao fato da maioria dos trocos serem formados por secção elíptica, superestimando-se assim, o cálculo da área basal. Por fim, quando houver a presença de troncos múltiplos, indica-se mensurar apenas aqueles que se enquadram no limite de inclusão.
Outras particularidades
Outras particularidades estão atreladas às exigências impostas pela legislação. Em suma, as condições são distintas para os diferentes biomas. A exemplo, na elaboração do Cadastro Ambiental Rural, a quantidade de área que deve ser destinada à Reserva Legal varia de acordo com a localização geográfica do imóvel rural e o bioma nele existente.
Imóvel localizado na Amazônia Legal:
- 80% (oitenta por cento) no imóvel situado em área de florestas;
- 35% (trinta e cinco por cento) no imóvel situado em área de cerrado;
- 20% (vinte por cento) no imóvel situado em área de campos gerais.
Imóvel localizado nas demais regiões do País:
- 20% (vinte por cento).
Inventário Florestal Nacional
Para o Inventário Florestal Nacional (IFN), certamente o grande desafio e o diferencial em relação a outras propostas de avaliação de uma vegetação tão variada e distribuída em um território tão vasto como o brasileiro, é a de aplicar uma mesma metodologia em todo o País. Embora inquestionável, a importância de uma metodologia única para todo o Brasil, cada bioma possui suas particularidades, que por vezes necessitam de um maior apuro no processo de coleta de dados para que possamos ter uma boa representatividade das características que buscamos conhecer do bioma. Para conseguir essa garantia, em alguns biomas foram aplicados pequenos incrementos na metodologia do Inventário Florestal Nacional.
Qual metodologia é essa?
Em síntese, o sistema de amostragem do IFN contou com pontos amostrais com uma distribuição segundo uma grade nacional estabelecida pelo Serviço Florestal Brasileiro.
A grade nacional padrão do IFN formou-se por pontos equidistantes em 20 km, denominada grade nacional padrão 20 km x 20 km. Para tanto, visando a representatividade das diferentes tipologias florestais, aplicou-se o adensamento da grade. Esses adensamentos foram de 10 km x 10 km, 5 km x 5 km ou mais.
Para a coleta dos dados biofísicos, sobre cada ponto da Grade Nacional de Pontos Amostrais (GNPA), instalou-se um conglomerado. O conglomerado, por sua vez, é em formato da Cruz de Malta, constituído por quatro subunidades retangulares de área fixa, perpendiculares em relação ao seu ponto central, orientadas na direção dos pontos cardeais e numeradas de 1 a 4.
Para cada bioma, o tamanho da subunidade foi relacionado às características das florestas existentes. Em conclusão, nos biomas Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampas, as subunidades foram de 1.000 m² (20 m x 50 m), enquanto que no bioma Amazônia foi de 2.000 m² (20 m x 100 m); em que, cada uma dessas subunidades foram subdivididas em subparcelas de 10 m x 10 m.
Importância do Inventário Florestal Nacional
O IFN é uma das principais iniciativas do governo federal para a quantificação e qualificação dos recursos florestais brasileiros. O levantamento, em execução, é de fundamental importância para a compreensão da estrutura e composição dos biomas e suas tipologias florestais. A saber, durante o IFN, as principais informações obtidas são: solo, necromassa, serrapilheira, classes de uso da terra e vegetação.
Diante do exposto, você já tinha se questionado sobre a importância de conhecer as principais características de uma formação vegetal, isto é, do bioma, antes do inventário florestal? Compartilhe conosco a sua experiência. Deixe seu depoimentos nos comentários!
Links Relacionados
Revisado por Juliane Cruz Barros em 20 de abril de 2023
__________ xxx __________