A necessidade de se conhecer o estoque de madeira e a estrutura das florestas nativas com maior precisão é de fundamental importância para a escolha de critérios que melhor definem quais espécies a se manejar, assim como quais florestas têm potencial para produção ou conservação. A saber, a principal ferramenta para se conhecer o estoque de madeira na floresta é o inventário florestal, que utiliza fundamentos de amostragem para estimar os parâmetros quantitativos, como volume e área basal, assim como os qualitativos, como qualidade de fustes e valoração de espécies. Mas, você sabe como fazer um Inventário Florestal?
O que é Inventário Florestal?
Hush et al. (1993) definem inventário florestal como um procedimento para obter informações sobre quantidade e qualidade dos recursos florestais e de muitas características sobre as quais as árvores estão crescendo.
A saber, o procedimento divide-se em três etapas: planejamento, coleta e processamento dos dados. Assim, pode-se inferir que, em síntese, a execução dessas etapas é de suma importância para obtenção de resultados precisos.
Etapa 1: Planejamento
O planejamento de um inventário florestal resume-se em sete passos, a começar pela definição do objetivo desse inventário. Os demais passos englobam: levantamento das informações iniciais, descrição da área, definição do desenho de amostragem, procedimentos para o trabalho de campo, compilação e procedimentos de cálculo e relatório final.
A seguir, tem-se o passo a passo descrito de forma detalhada:
1. Objetivos do Inventário Florestal
- Identificar o volume estocado de madeira (Inventário florestal convencional);
- Verificar as mudanças ocorridas na floresta (Inventário florestal contínuo);
- Verificar o porcentual de falhas/sobrevivência das mudas no campo (Inventário florestal de sobrevivência);
- Verificar o volume de madeira que será explorado (Inventário florestal pré-corte);
- Verificar as estimativas por classe de diâmetro, espécie, família (Inventário florestal para planos de manejo).
2. Levantamento das informações iniciais
- Mapas, fotografias aéreas e levantamentos passados;
- Indivíduos ou organização do suporte do inventário;
- Disponibilidade de recursos.
3. Descrição da área
- Localização;
- Tamanho da área (hectares);
- Facilidade de transporte, acesso e topografia;
- Características gerais das florestas.
4. Definição do tipo de amostragem
- Definição da variável de interesse (peso ou volume);
- Tamanho e forma das unidades amostrais;
- Método de seleção e distribuição das unidades amostrais;
- Precisão requerida no inventário;
- Nível de probabilidade;
- Coeficiente de variação da floresta (obtido em literatura ou por inventário piloto);
- Valor t- tabelado ou “t-student”, a dado nível de significância e n-1 graus de liberdade;
- Número total de unidades de amostras cabíveis na população;
- Tempo e custo para as fases de trabalho em campo.
Mas, como definir o tipo de amostragem?
O Inventário Florestal pode ser realizado por meio do censo (inventário 100%) ou por amostragem. Em síntese, o censo consiste na mensuração de todos os indivíduos de um povoamento florestal e, recomenda-se o seu uso para pequenas áreas florestadas ou com poucos indivíduos.
Por outro lado, o método por amostragem trata-se da análise de uma porção da população florestal de interesse. Assim, considerando que as unidades amostrais estabelecidas sejam representativas da população, com os dados obtidos realiza-se a extrapolação para toda a área. Em outras palavras, a partir destas informações pode-se fazer inferências sobre a população total.
Em suma, para a escolha do melhor delineamento de amostragem é necessário levar em consideração o objetivo do inventário florestal, a área total, os recursos disponíveis, a variabilidade da floresta e a precisão requerida em torno da média das árvores.
Ademais, cabe ressaltar que, dentre os delineamentos de amostragem mais utilizados destaca-se a Amostragem Casual Simples, Amostragem Casual Estratificada, Amostragem Sistemática em Um Estágio, Amostragem Sistemática em Dois Estágios e Amostragem em Conglomerados.
5. Procedimentos para o trabalho de campo
- Equipe de trabalho (número de equipes e de pessoas por equipe);
- Suporte logístico e de transporte;
- Procedimento de locação e marcação de unidades amostrais;
- Procedimentos para a obtenção das informações quantitativas (DAP, altura, etc) e qualitativas;
- Instrumentos e equipamentos de medição (GPS, suta, fita métrica, vara telescópica, equipamentos de proteção individual);
- Planilhas e fichas para anotação dos dados e informações;
- Controle de qualidade (verificação de erros);
- Fatores de conversão dos dados (por exemplo: CAP para DAP).
6. Compilação e procedimentos de cálculo
- Conversão das variáveis de campo para expressões de quantidades desejáveis (equações, fatores);
- Cálculo do erro de amostragem;
- Métodos a serem utilizados (programas, computadores).
7. Relatório final
- Formato;
- Pessoal responsável pela preparação;
- Método de reprodução (xerox, impressora);
- Número de cópias;
- Distribuição.
Etapa 2: Coleta de dados
Após o planejamento do Inventário Florestal procede-se com a fase de coleta de dados. Nesta etapa destaca-se o lançamento e a marcação das parcelas, uma vez que é a partir dessa demarcação que se realiza a coleta das informações de interesse.
Lançamento e marcação das parcelas
O lançamento e a distribuição das parcelas na área que será inventariada é dado em função do tipo de amostragem adotado na fase de planejamento.
Em síntese, se a amostragem adotada for a amostragem casual simples ou amostragem casual estratificada, o lançamento das parcelas no campo será de forma aleatória. Por outro lado, se a amostragem escolhida for do tipo sistemática, as unidades que constituem a amostra não serão selecionadas pelas leis da probabilidade, mas sim, pelo julgamento pessoal ou sistemático.
Por convenção, a marcação das parcelas de um inventário temporário, em floresta nativa, assemelha-se a diferentes figuras geométricas como o retângulo, quadrado e círculo. Dessa forma, a marcação das parcelas em formato retangular e quadrado obedecem aos seguintes passos:
- Por meio do georreferenciamento, utilizando um GPS, marca-se um dos vértices ;
- Marca-se a árvore do vértice da parcela por meio de plaqueta de alumínio ou tinta, em que é contido o número da parcela;
- Após demarcação da árvore, delimita-se o comprimento e largura da parcela por meio de uma trena;
- Realiza-se a identificação e marcação das árvores localizadas nos outros vértices com o intuito de delimitar a parcela.
No que diz respeito as parcelas com o formato circular, a partir do georreferenciamento, realiza-se a marcação do centro da parcela. Em seguida, define-se um raio e, marcam-se as árvores localizadas no limite do raio por meio de plaqueta de alumínio ou tinta, identificando assim o número da parcela.
Concluído o lançamento e a marcação das parcelas, coleta-se as variáveis florestais como o DAP ou CAP, e a altura.
Coleta de variáveis florestais
Dentre os equipamentos mais utilizados nessa etapa do inventário florestal, destacam-se a suta ou a fita métrica para medição do DAP ou CAP; clinômetro e hipsômetro para mensuração da altura; e, a vara telescópica e o podão para coleta dos ramos.
Na parcela, coleta-se o CAP ou DAP e a altura de todos os indivíduos com o intuito de quantificar, principalmente, o volume. Esses dados podem ser inseridos em uma ficha de campo ou em um coletor de dados como o software Mata Nativa Móvel. A saber, a coleta digital dos dados reduz o tempo de permanência em campo e com isso, os custos operacionais.
Além das variáveis quantitativas, coletam-se os ramos, flores e fruto de cada espécie da parcela para identificação botânica. Também, a depender do objetivo do inventário florestal, pode-se coletar as características qualitativas como infestação de cipó, qualidade do fuste e luminosidade das copas.
Etapa 3: Processamento do Inventário Florestal
Após a coleta do CAP (ou DAP) e altura das árvores de cada parcela, estima-se o volume de madeira por meio de equações volumétricas que são ajustadas mediante os dados da cubagem rigorosa, ou seja, medições de diâmetro ao longo do fuste.
Além das informações volumétricas, o inventário é capaz de fornecer informações que possibilitam a qualificação das florestas no que diz respeito ao percentual de falhas, árvores mortas e suprimidas, se voltado para a mensuração de florestas plantadas.
No contexto de florestas nativas o procedimento contribui com análises fitossociológicas que permitem a identificação e distribuição das espécies de maior importância em uma formação vegetal. Assim, em ambas as situações, para a análise dos dados coletados, algumas ferramentas se fazem importantes para o processamento, por exemplo, cita-se os editores de planilhas, os softwares Fitopac, Cubmaster e o Mata Nativa.
Microsoft Excel
Uma das principais ferramentas para processamento são os editores de planilhas, sendo o Microsoft Excel comumente utilizado. Em suma, os editores de planilhas são importantes por facilitarem a digitação dos dados coletados em campo e a inserção das fórmulas estatísticas.
Fitopac
O software Fitopac é uma importante ferramenta que auxilia em análises fitossociológicas. O software fornece informações da estrutura horizontal da floresta, bem como a quantidade de indivíduos por espécie e por família.
Cubmaster
O Cubmaster destaca-se pela interface amigável que permite ao usuário manipular diferentes bancos de dados; totalizar os volumes das árvores por diferentes procedimentos; ajustar equações volumétricas de diferentes naturezas; ajustar modelos de taper que descrevem o perfil das árvores, bem como realizar análises gráficas de consistência e de precisão das equações ajustadas.
Mata Nativa
O Mata Nativa Web permite ao usuário realizar o processamento do inventário florestal, fornecendo resultados referentes à volumetria como média, desvio padrão, variância, variância da média, coeficiente de variação, erro padrão, erro de amostragem e intervalo de confiança do inventário.
Além disso, o software fornece resultados referente à fitossociologia da floresta, permitindo realizar análise da estrutura horizontal (frequência, densidade, dominância e índices de valor de cobertura de cada espécie amostrada), estrutura vertical e cálculo do valor de importância da floresta.
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Revisado por Juliane Cruz Barros em 04 de abril de 2023
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