O uso de agrotóxicos na agricultura tem sido associado à alta produtividade devido à sua capacidade de controlar pragas, doenças e ervas daninhas que podem reduzir o rendimento das culturas. No entanto, essa relação entre agrotóxicos e alta produtividade também levanta preocupações e desafios significativos. Em suma, o uso indiscriminado dessas substâncias pode provocar consequências negativas, principalmente, para a saúde humana e meio ambiente. Assim, a conscientização da população quanto os riscos que estas substâncias podem oferecer se faz necessária. Nesse sentido, surge o Dia de Combate à Poluição por Agrotóxicos.
Aplicação de agrotóxicos: prós e contras
Apesar do uso não consciente e desordenado dos agrotóxicos, estas substâncias são regulamentadas para uso na produção agrícola. Assim, cabe destacar que, o uso dos agrotóxicos deve ser prescrito por um profissional habilitado, como os agrônomos. A saber, no receituário deve-se descrever detalhadamente todas as informações, como o objetivo do uso (alvo a ser tratado), qual a substância ideal para a situação em questão, como se aplicar o produto, quantidade, dentre outros.
Vantagens do uso de agrotóxicos na produtividade agrícola
Controle de Pragas e Doenças: Os agrotóxicos são projetados para controlar pragas e doenças que afetam as culturas. Em síntese, o controle eficaz desses fatores pode aumentar a produtividade, protegendo as plantas contra danos.
Aumento da Produção: Ao reduzir as perdas causadas por pragas e doenças, os agrotóxicos podem contribuir para o aumento da produção agrícola.
Manejo de Ervas Daninhas: Agrotóxicos herbicidas ajudam no controle de ervas daninhas, o que pode resultar em maior disponibilidade de nutrientes e água para as culturas desejadas. Tais aspectos acabam promovendo um ambiente favorável ao crescimento e à produtividade.
Eficiência Operacional: Em muitos casos, o uso de agrotóxicos permite a produção em larga escala, com maior eficiência operacional. De fato, este fator é crucial para atender à demanda crescente por alimentos.
Desafios e preocupações associados ao uso de agrotóxicos:
Impactos na Saúde Humana: O uso indiscriminado de agrotóxicos pode resultar em resíduos em alimentos e na contaminação da água, representando riscos para a saúde humana.
Impactos Ambientais: O escoamento de agrotóxicos para rios e lagos, bem como a contaminação do solo, pode ter impactos negativos nos ecossistemas aquáticos e terrestres.
Resistência de Pragas e Doenças: O uso excessivo de agrotóxicos pode levar ao desenvolvimento de resistência por parte de pragas e doenças, tornando necessário o uso de doses mais altas ou o uso de produtos mais tóxicos.
Perda de Biodiversidade: A aplicação intensiva de agrotóxicos pode resultar na perda de biodiversidade em ecossistemas agrícolas devido à eliminação de organismos não alvo.
Resistência de Plantas Daninhas: O uso prolongado de herbicidas pode levar ao desenvolvimento de plantas daninhas resistentes, criando um ciclo de dependência de produtos químicos.
Contaminação do Solo: Agrotóxicos podem ter efeitos adversos sobre a microbiota do solo, impactando negativamente, por exemplo, a fertilidade do solo.
Impactos na Polinização: O uso inadequado de agrotóxicos pode prejudicar polinizadores, como abelhas, que desempenham um papel crucial na produção de muitas culturas.
Estratégias alternativas e práticas sustentáveis
Apesar das vantagens apresentadas, podemos reafirmar quanto as consequências negativas que o uso errôneo dos agrotóxicos pode acarretar. Assim, a busca por alternativas mais sustentáveis, menos prejudiciais ao ser humano e meio ambiente, se faz cada dia mais evidente. A exemplo, tem-se as seguintes estratégias:
Manejo Integrado de Pragas (MIP)
O MIP enfatiza a utilização de uma combinação de técnicas para minimizar a dependência de agrotóxicos. A exemplo, tem-se o controle biológico, rotação de culturas, uso de variedades resistentes e monitoramento constante.
Agricultura Orgânica
A agricultura orgânica não faz uso de fertilizantes sintéticos e agrotóxicos. Assim, este modelo de produção se caracteriza por empregar métodos naturais de controle de pragas, como compostagem, rotação de culturas e fertilizantes orgânicos.
Rotação de Culturas e Diversificação
A rotação de culturas pode ajudar a reduzir a pressão de pragas e doenças, enquanto a diversificação agrícola pode criar um ambiente menos propício ao desenvolvimento de problemas fitossanitários.
Práticas de Conservação do Solo
A manutenção da saúde do solo por meio de práticas como plantio direto, cobertura morta e rotação de culturas pode reduzir a necessidade de agrotóxicos.
Agroecologia
A agroecologia promove a integração de práticas ecológicas na agricultura, considerando os aspectos sociais, econômicos e ambientais para alcançar sistemas agrícolas mais sustentáveis.
Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento
Apoiar pesquisas para o desenvolvimento de culturas resistentes a pragas, métodos de controle biológico eficazes e práticas agrícolas inovadoras pode reduzir a dependência de agrotóxicos.
Educação e Conscientização
Promover a educação agrícola e a conscientização entre os agricultores sobre práticas sustentáveis pode levar a mudanças positivas na gestão de pragas e no uso de agrotóxicos.
Regulação e Fiscalização
Reforçar regulamentações e fiscalizações rigorosas sobre a venda, uso e descarte de agrotóxicos é essencial para garantir que sejam utilizados de maneira segura e responsável. De fato, faz-se necessário revisar e atualizar constantemente as leis relacionadas ao uso destas substâncias, incorporando descobertas científicas, padrões internacionais e melhores práticas.
Investimento em Agricultura de Precisão
A agricultura de precisão utiliza tecnologias avançadas, como sensores e drones, para aplicar insumos agrícolas, incluindo agrotóxicos, de maneira mais eficiente e direcionada.
Promoção de Práticas Sustentáveis por Parte dos Consumidores
A conscientização dos consumidores sobre os impactos ambientais e de saúde associados ao uso de agrotóxicos pode influenciar a demanda por produtos cultivados de maneira sustentável.
Monitoramento e avaliação contínua do uso de agrotóxicos
Além da busca por alternativas mais sustentáveis, o monitoramento e controle do uso dos agrotóxicos deve ser realizado regularmente. Assim, pode-se proceder com:
Análise de Risco: Realizar avaliações de risco ambiental e de saúde antes da aprovação e uso de novos agrotóxicos para entender e mitigar seus possíveis impactos negativos.
Promoção da Responsabilidade Empresarial: Incentivar as empresas a adotarem práticas agrícolas sustentáveis, responsabilidade socioambiental e a transparência na divulgação de informações sobre o uso de agrotóxicos.
Incentivos Financeiros: Oferecer incentivos financeiros para agricultores que adotam práticas sustentáveis, como a redução gradual do uso de agrotóxicos e a implementação de métodos de manejo integrado.
Capacitação Técnica: Fornecer treinamento, bem como suporte técnico aos agricultores para implementar práticas agrícolas sustentáveis e estratégias alternativas ao uso excessivo de agrotóxicos.
Pesquisa e Desenvolvimento Contínuos: Investir em pesquisa contínua para desenvolver alternativas aos agrotóxicos, incluindo métodos biológicos de controle de pragas, culturas geneticamente modificadas resistentes e práticas agrícolas inovadoras.
Divulgação de Informações: Melhorar a divulgação de informações sobre o uso de agrotóxicos, permitindo que agricultores e consumidores tomem decisões informadas e promovam a transparência na cadeia de produção alimentar.
Participação Comunitária: Incentivar a participação ativa das comunidades locais na tomada de decisões relacionadas à agricultura e promover práticas agrícolas que se alinhem com suas necessidades e valores.
Parcerias Público-Privadas: Estabelecer parcerias colaborativas entre governos, setor privado, organizações não governamentais e a sociedade civil para enfrentar conjuntamente os desafios associados ao uso de agrotóxicos.
Transição para Agricultura Regenerativa: Apoiar a transição para práticas agrícolas regenerativas. Estas práticas buscam não apenas minimizar impactos negativos, mas também promover a restauração e a saúde dos ecossistemas.
Cenário do uso de agrotóxicos no Brasil
A crescente no uso de agrotóxicos no Brasil é notável, principalmente em função da demanda de alimentos. No entanto, tal fato vai na contramão ao desenvolvimento sustentável. A saber, a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, inclui dentre os objetivos, a redução no uso de agrotóxicos. Frente a esta necessidade, diariamente se estabelece normas, leis e diretrizes.
Em dezembro de 2023, teve-se sancionada a Lei N° 14.785/2023. Em suma, o documento “dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem, a rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e das embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, de produtos de controle ambiental, de seus produtos técnicos e afins”.
De fato, a nova lei divide opiniões, ora agradando ou não aos ruralistas e ambientalistas. Contudo, sabe-se que, a busca por soluções sustentáveis e a redução da dependência de agrotóxicos exigem uma abordagem integrada. Em outras palavras, deve-se envolver produtores, pesquisadores, governos, organizações não governamentais e consumidores. De fato, o desafio é encontrar um equilíbrio entre a necessidade de alimentar uma população crescente e a preservação dos ecossistemas e da saúde humana a longo prazo.
É fundamental reconhecer que a busca pela sustentabilidade na agricultura requer um compromisso coletivo e uma abordagem integrada. Assim, o dia 11 de janeiro, destinado para o combate/controle à poluição por agrotóxicos, é mais uma oportunidade de reverter o cenário degradante.
Link relacionado
Lei Nº 14.785, de 27 de dezembro de 2023
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