O inventário florestal pode ser realizado para atender diferentes projetos florestais. Para cada objetivo pretendido pelos empreendimentos florestais, o tipo e a abrangência dos inventários podem ser diferentes. Este processo tem como finalidade principal melhorar a precisão e a qualidade das informações coletadas, através do detalhamento da área amostrada, que é dividida (estratificada) em áreas menores com condições físicas e/ou vegetacionais mais homogêneas. Assim, quanto maior a variabilidade da vegetação avaliada, maior será a intensidade amostral. Uma desvantagem dessa técnica é o aumento do custo amostral à medida que o nível de estratificação for maior. Diferentes critérios podem ser utilizados para fazer estratificação de vegetação nativa para o inventário florestal. As principais fontes de variação, e por isso critérios para estratificação, são relacionados às características da paisagem, como relevo, solo e estrutura da vegetação:
1. Relevo
As porções topográficas geralmente ocasionam o surgimento de vegetações distintas e que devem ser segregadas durante a realização do inventário florestal. Além disso, entender o tipo de vegetação que ocorre em cada elemento do relevo é fundamental para planejar a intensidade amostral necessária para cada formação. O planejamento da execução também é influenciado por este fator, uma vez que inventários realizados em áreas de relevo acidentado são mais custosos, demandando maior tempo.
Esse tipo de estratificação é indicado para regiões com topografia mais complexa, como o “Mar de Morros“, em Minas Gerais, e os terrenos escarpados da região do Sul. Em relevos fortemente ondulados, uma estratificação plausível seria em áreas de “baixada”, “encosta” e “topo de morro”. Esta classificação pode ser aplicada em diferentes escalas espaciais, dependendo do nível de complexidade topográfica do relevo.
2. Solo
Condições edáficas também são um grande fator na determinação dos tipos vegetacionais. Neste contexto, características físicas e químicas podem regular o estabelecimento das espécies vegetais, a partir das quais originam-se diferentes cadeias tróficas, dando origem a ecossistemas característicos.
Por exemplo, no Cerrado Brasileiro a fertilidade natural do solo proporciona a distinção de dois tipos da fitofisionomia de Cerradão. O chamado Cerradão Distrófico é formado a partir de solos com altos níveis de acidez e com baixos teores de fertilidade e, em alguns casos, com grande concentração de alumínio trocável. A combinação destes fatores funciona como um “filtro ambiental“, que resulta em ambientes com espécies adaptadas à estas condições e, por isso, geralmente são menos diversas. Opostamente, o Cerradão Eutrófico se desenvolve sobre solos com alta fertilidade natural e níveis mais adequados de acidez. Com isso, uma gama maior de espécies consegue se desenvolver, resultando em ecossistemas que tendem a uma maior diversidade.
Assim, se uma análise visual não for suficiente para distinguir uma estratificação de vegetação nativa, a análise do solo pode ser necessária para separar a área em ambientes mais homogêneos. Um nível tão preciso de estratificação é pouco exigido em projetos florestais e pouco factível na prática. Portanto, é uma técnica de estratificação importante para projetos de pequena escala, além de pesquisas científicas.
3. Fitofisionomia
A segregação de áreas pela fitofisionomia é uma maneira mais direta de estratificar extensas áreas de vegetação. Aqui, podemos lançar mão de aspectos visuais e estruturais da vegetação para definir quais serão as classes ou estratos a serem adotados para o inventário. Portanto, como a vegetação é o resultado da combinação de fatores ambientais, proceder à estratificação com base nas fitofisionomias inclui, indiretamente, a classificação do relevo, solo e disponibilidade hídrica, por exemplo. Assim, trata-se de uma técnica que não exige análises detalhadas de fatores ambientais.
Dependendo do tamanho da área, podem ser necessárias subclassificações, pois algumas estratificações iniciais podem conter uma variabilidade ainda muito alta. Neste caso, subestratificações pela posição no relevo ou proximidade de corpos hídricos podem ser aplicadas.
4. Idade Sucessional
No Brasil, boa parte da vegetação nativa é resultante da sucessão ecológica a partir de diferentes processos antrópicos. Os usos e as intensidades de ocupação das áreas dão origem a uma extensa variedade de formações florestais secundárias. Neste contexto, a estratificação pela idade, ou seja, o período decorrido desde o início da sucessão, é fundamental para garantir a qualidade do inventário nesses ecossistemas.
E como fazer a estratificação de vegetação nativa?
O procedimento de estratificação de vegetação nativa depende diretamente da técnica escolhida. Como dito anteriormente, se o solo for o critério, as análises laboratoriais deste componente serão fundamentais. No caso do relevo, medidas de inclinação e posição do terreno são imprescindíveis, podendo-se adotar ferramentas de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) para realizar a estratificação, em alguns casos, até sem idas a campo.
Para estratificações feitas a partir das fitofisionomias, as imagens de satélite e as ferramentas de SIG são as principais e mais práticas formas de realizar o processo. De maneira análoga, quando a idade sucessional é considerada para definir os estratos, a avaliação de uma série histórica de imagens de satélite da área é fundamental para entender quais porções podem apresentar vegetações mais homogêneas. Nestes casos, avaliações texturais e de reflectância da cobertura vegetal podem fornecer diferenciações adequadas para estabelecer os estratos.
Técnicas mais sofisticadas, como drones, podem ser utilizadas, de forma única ou complementar, para colher informações para subsidiar a estratificação. Neste caso, sobrevoos com estes equipamentos podem melhorar a percepções sobre as características da área, imperceptíveis quando vistas do solo ou negligenciadas por imagens orbitais de baixa precisão.
É importante salientar que a distribuição das parcelas, isto é, o tipo de amostragem, pode ser estabelecida independente da quantidade ou tamanho dos estratos. Entretanto, uma análise de qual sistema de amostragem será aplicado deve ser feita, levando em consideração as peculiaridades da vegetação e as variáveis a serem medidas. Além disso, a intensidade amostral também pode ser determinada conforme as exigências legais ou objetivos do inventário. Para mais detalhes sobre a determinação do número de amostras, consulte nosso conteúdo sobre como fazer a estratificação de áreas?.
Independentemente do critério utilizado para a estratificação, é importante que se realize o mapeamento dos inventários florestais. Esse procedimento é fundamental para planejar a disposição das unidades amostrais na área e a logística necessária para realização do inventário, bem como subsidiar a proposição de orçamentos adequados para a atividade. Após a estratificação e o seu respectivo mapeamento, é recomendável que se realize uma inspeção na área. O intuito é avaliar se os estratos determinados coincidem com a realidade do local e se o planejamento de execução é factível em campo.
Por fim, a estratificação das áreas florestais nativas também pode ser realizada com base no inventário florestal. Neste caso, o inventário deve ter sido realizado preferencialmente pelo método de amostragem sistemática. Com amostras distribuídas em um grid, por exemplo, é possível estabelecer os estratos da área por meio da aplicação de técnicas de geoestatísticas, como a krigagem e interpolação. Estes métodos proporcionam a estratificação de toda a área a partir das características de pontos amostrais, que são balanceadas conforme a distância destes pontos.
Definido(s) o(s) critério(s) de estratificação, selecione as técnicas para realizá-la. Confira em campo a precisão da estratificação, confirmando, simultaneamente, o planejamento logístico. E então é só executar o seu inventário florestal. Mas antes, nos deixe um comentário sobre o que achou desse conteúdo, ou uma sugestão de novas postagens…
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