Traçar o perfil das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) é de suma importância para as políticas e ações que envolvem a temática. Nesse sentido, mundialmente, têm-se discussões acerca do perfil de emissões de GEE. Porém, existe diferença entre os perfis de emissões do Brasil e do mundo?
Mudanças climáticas: contextualização
Antes de tudo, é importante compreender o contexto das mudanças climáticas. Nesse sentido, um importante conceito é o de “Efeito Estufa”, fenômeno físico natural de aquecimento da Terra.
Tal aquecimento ocorre por meio da retenção de calor na superfície terrestre. Esta retenção acontece com o auxílio de uma camada de gases. A saber esta camada é formada, principalmente, por dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄), óxido nitroso (N₂O) e ozônio.
À medida que a concentração desses gases aumenta, o calor é menos dissipado para o espaço. Assim, consequentemente, há a intensificação do efeito estufa. Esse agravamento do fenômeno leva ao aquecimento da atmosfera, causando o chamado aquecimento global – aumento da temperatura média do planeta.
Os Gases de Efeito Estufa (GEE)
Primeiramente, o termo “Gases de Efeito Estufa” é dado àqueles que formam a camada de gases que permitem a existência do fenômeno Efeito Estufa. Os GEE mais conhecidos são CO₂, CH₄ e N₂O. A saber, estes são os que possuem maior contribuição para as mudanças climáticas.
Porém, ressalta-se que há outros gases, de origem natural ou sintética, além dos três citados acima, que possuem potencial de aquecimento global. Tais gases não são constantemente citados, devido à menor presença deles nas atividades emissoras.
Inventário de emissões de GEE
O perfil de emissões de Gases de Efeito Estufa é traçado por meio dos resultados obtidos no inventário de emissões de GEE. Porém, no que consiste esse inventário?
O inventário de emissões de GEE se caracteriza no mapeamento das atividades emissoras de um determinado setor. Tais atividades são chamadas de fontes de emissão e os principais setores considerados hoje no Brasil e no mundo são:
- Energia;
- Agropecuária;
- Resíduos;
- Processos industriais;
- Mudança de uso da terra e floresta.
Nesse sentido, cada fonte de emissão possui uma contribuição dentro do setor em que ela está inserida. A partir disso, tem-se quais setores contribuem mais ou menos no perfil de emissões. Com isso, é possível implementar ações voltadas para a redução das emissões. A exemplo, tem-se a mitigação, monitoramento dos impactos e até mesmo a neutralização.
Perfil de emissões de GEE do mundo
Antes de tudo, ressalta-se que a respiração das plantas, dos animais e do ser humano também emitem CO₂. Tais emissões são vitais, impossíveis de não acontecer e, portanto, fazem parte do ciclo natural do planeta. Nesse sentido, não são essas as emissões responsáveis pelo agravamento do efeito estufa.
Além disso, todas as atividades antrópicas, em maior ou menor grau, emitem GEE em alguma etapa. A exemplo, cita-se a queima de combustíveis fósseis, o processo de fermentação entérica de animais ruminantes e os processos industriais. Estes processos estão entre as principais atividades que contribuem para o agravamento das mudanças climáticas em todo o mundo.
O perfil de emissões mundial tem como a maior fonte de emissão a queima de combustíveis fósseis. Sobretudo, a queima de tais combustíveis para a produção de eletricidade e calor, e no transporte são as principais atividades emissoras. De acordo com as discussões ocorridas na COP26, acredita-se que utilizar o petróleo e carvão para a geração de energia seja a atividade “vilã” das mudanças climáticas.
Seguindo o ranking das emissões no perfil mundial, a agricultura e a mudança de uso do solo vêm em seguida. Tais setores possuem grande representatividade nas emissões mundiais. Assim, a busca por formas mais sustentáveis de produzir alimentos aumenta cada dia mais.
Enfim, os últimos setores que formam o perfil de emissões mundial são os processos industriais e a geração e descarte de resíduos. Apesar de serem os últimos, ambos possuem contribuição significativa nas emissões, além de outras problemáticas ambientais. Por isso, os países devem se empenhar também para reduzir os impactos ambientais de tais setores.
Perfil de emissões de GEE do Brasil
De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), responsável por traçar o perfil de emissões do Brasil, a maior fonte de emissão do país, desde 1990, é a mudança de uso da terra e florestas. Nesta fonte estão incluídos o desmatamento, a degradação do solo, conversão do solo em atividades rurais e a queima de resíduos florestais.
Emissões por setor
Em 2020, o setor de mudança de uso da terra e florestas foi responsável por 998 Mt CO₂e (milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente). Tal valor corresponde a 46% das emissões brutas do Brasil. Em outras palavras, apenas um setor representa quase 50% das emissões do país. Nesse sentido, acredita-se que a grande pressão sobre as florestas, principalmente a abertura de novas fronteiras agrícolas, possui uma grande responsabilidade nesse cenário.
O setor agropecuário, em 2020, foi o segundo maior emissor, chegando ao número de 577 Mt CO₂e. Com isso, esta fonte de emissão representou 27% das emissões brutas do país, oriundas principalmente da fermentação entérica de ruminantes, como a produção de gado. Além disso, o manejo de solos possui uma parcela significativa de emissão nesse setor, por meio do uso de fertilizantes nitrogenados e operações agrícolas nos solos.
A terceira fonte de emissão do Brasil fica a cargo do setor de energia, que em 2020 atingiu a emissão de 393,7 Mt CO₂e. Este valor corresponde a 18,2% das emissões brutas do país. Ainda, a principal atividade responsável pelas emissões desse setor é a queima de combustíveis fósseis por veículos e produção de energia.
Sobretudo, ressalta-se que o Brasil possui uma matriz energética consideravelmente “limpa”, oriunda principalmente de hidroelétricas. Nesse sentido, a queima de combustível por termoelétricas para a produção de energia se dá quando há situação de seca hídrica. Dado o evento, as hidroelétricas não conseguem produzir energia suficiente para abastecer todo o país.
Por fim, os setores industriais e de resíduos, ocupam, respectivamente, a posição de quarto e quinto lugar no ranking das fontes emissoras do Brasil. As emissões de tais setores não representaram 10% das emissões brutas do país, em 2020.
Impacto da pandemia nas emissões do Brasil e do mundo
De acordo com o SEEG, a partir de uma estimativa feita pelo CarbonBrief, estimava-se que as emissões de GEE no planeta poderiam diminuir. A expectativa era uma queda de 6% no ano de 2020, o que, segundo eles “seria a maior redução anual já registrada desde que os levantamentos começaram a ser realizados sistematicamente, nos anos 1990”.
Realizou-se tal estimativa a partir de revisão de várias fontes. Para tanto teve como base principal o impacto da redução na queima de combustíveis fósseis. Como apresentado acima, esta atividade é a maior contribuinte nas emissões mundiais, correspondendo a dois terços das emissões globais de GEE.
Será que a estimativa foi certeira?
Sim! As emissões globais tiveram um marco inédito de 7% em 2020, ano em que a pandemia da COVID-19 parou a economia mundial. Porém, o Brasil foi na contramão do resto do mundo, tornando-se possivelmente o único país que apresentou alta nas emissões. Nesse sentido, considerado o grande emissor do planeta durante a pandemia, verificou-se um aumento significativo de 9,5% das emissões brutas de GEE. O nível de emissões verificado em 2020 é o maior desde o ano de 2006.
Diante do exposto, é evidente que as ações para a redução e mitigação das emissões de GEE no Brasil se diferem do mundo devido ao perfil de emissões. Ainda, se faz necessário aumentar os esforços para combater o desmatamento no país, sendo que esta é a principal fonte de emissão do Brasil.
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