O aumento nos focos de incêndio este ano fez com que o mundo se voltasse para a maior floresta tropical e maior reserva de biodiversidade da Terra. Milhares de mensagens de alerta em diferentes línguas circulam nas redes sociais com a hashtag #PrayForAmazonia. A razão não poderia ser pior: a Amazônia está ardendo em chamas.
A pressão internacional foi tanta, que um decreto foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) do dia 29 de agosto, determinando a proibição das queimadas em território brasileiro por sessenta dias.
O número de focos de calor registrados na Amazônia já é 60% mais alto do que o registrado nos três anos anteriores. E este pico não tem muito a ver com uma seca mais forte como poderia se supor.
Mas se a seca não explica as queimadas atuais, a retomada da derrubada da floresta faz isso. O fogo é normalmente usado para limpar o terreno depois do desmatamento, e a relação entre os dois fatores é evidente em uma análise entre os focos de calor e o registro de derrubada feito pelo Sistema de Alertas de Desmatamento.
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Outra grande preocupação é em relação às queimadas em florestas públicas não destinadas, que ocupam 15% da Amazônia Legal e respondem por 20% das queimadas. Essas terras são de responsabilidade da União ou dos Estados e ainda não foram destinadas a unidades de conservação, terras indígenas ou outros usos e como não têm governança definida, se tornam alvos fáceis dos grileiros.
Além de todos esses problemas ainda existem os problemas relacionados à saúde, já que a fumaça desencadeia uma série de problemas respiratórios em quem mora na região, o que gera ainda gastos com saúde pública e prejuízos econômicos.
Diante da complexidade do assunto, tentarei fazer um apanhado de todos os pontos que envolvem esta discussão.
Um resumo sobre a situação
Os incêndios na Amazônia causam prejuízos ambientais mais graves do que os verificados em países com outros biomas. Os principais motivos são:
- Maior perda de biodiversidade: a floresta amazônica é o maior bioma do mundo e abriga a diversidade mais rica do planeta, segundo o ICMBio;
- Maior perda de matéria vegetal: por ser mais densa, a floresta tropical perde mais biomassa na queima;
- Maior emissão de carbono por hectare: por queimar mais biomassa, há maior emissão de gases que contribuem para o efeito estufa;
- Maior dificuldade de recuperação da cobertura vegetal: o bioma amazônico é úmido e as espécies são pouco resistentes ao fogo;
- Maior risco de afetar ciclos de chuva: a umidade produzida pela floresta produz chuvas no Brasil, Paraguai e Argentina.
Um problema do Brasil e do mundo
Dados do INPE, compilados com o auxílio de sistemas da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), apontam que há três biomas que foram particularmente afetados pelas queimadas em agosto de 2019: a tundra, vegetação baixa que ocorre em diversas regiões da Rússia; a savana, que recobre boa parte da Angola, da República Democrática do Congo e da Zâmbia; e a floresta amazônica, atingida pelos incêndios no Brasil e na Bolívia.
Porém o impacto das queimadas na Amazônia é mais grave do que o registrado nas demais áreas, por causa de ao menos quatro pontos principais: maior perda de biodiversidade, maior emissão de carbono, dificuldade na recuperação da flora e alteração no regime de chuvas no mundo.
Diferente do que acontece com os incêndios florestais em países de clima temperado como os Estados Unidos, a vegetação amazônica não evoluiu através do tempo convivendo com os efeitos do fogo. Ela não está propensa a se regenerar após uma queimada, como acontece com a do Cerrado. Outra diferença em relação ao Cerrado é que, na Amazônia, todas as queimadas são provocadas pelo homem. O início do fogo é sempre resultado da ação humana. Em períodos de seca mais intensa, as chamas podem se propagar com mais facilidade.
Realmente, em tempos de seca, floresta é combustível. Historicamente, durante a estação de menor incidência de chuvas, tipicamente compreendida entre os meses de julho e setembro, uma grande quantidade de focos de incêndios é detectada pelos satélites do INPE.
Estudos científicos mostraram que as queimadas desta região geralmente decorrem do modelo de ocupação e uso do solo, com o desmatamento de grandes áreas e consequente queima da vegetação, tanto de pastagem quanto de floresta primária para preparo da terra ao plantio.
A prática é comum na agropecuária nacional, principalmente na região do Cerrado e da Amazônia Legal. As queimadas são utilizadas em áreas com pastagens para a renovação ou recuperação da vegetação utilizada para a alimentação do gado, eliminando ervas daninhas e deixando os nutrientes mais disponíveis no solo. Porém, no longo prazo, essa prática provoca degradação físico-química e biológica do solo, e traz prejuízos ao meio ambiente.
Diante dos pontos levantados, seguimos aguardando medidas mais concretas por parte do governo e fazendo a nossa parte na luta em favor do meio ambiente.
Como são muitos fatores a serem discutidos e como se trata de um tema que envolve diferentes pontos de vista, conto com a opinião de vocês (leitores) nos comentários.
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