No início desse ano, incomuns ondas de calor atingiram a América do Sul, especialmente a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai. Como resultado, esses países emitiram alertas dizendo que as temperaturas poderiam ultrapassar 42 graus Celsius e isso realmente aconteceu em alguns lugares.
A exemplo, em algumas regiões do Uruguai, no dia 14 de janeiro, as temperaturas máximas registradas chegaram a 44 °C. Segundo o INUMET, instituto de meteorologia do país, esta foi a temperatura mais alta para o mês desde 1961. Já no Brasil, a cidade de Criciúma, em Santa Catarina, teve sensação térmica de 52°C no dia 19 de janeiro. A cidade Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, teve sensação térmica de 51,6°C no dia 16 de janeiro. Enquanto isso, na Argentina, Buenos Aires enfrentou seu quarto dia mais quente em 115 anos.
A região Cone Sul
A Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e parte do Brasil fazem parte do Cone Sul. Essa região é composta pelas zonas austrais da América do Sul, ao sul do Trópico de Capricórnio. Geograficamente é a porção sul do continente americano, cuja forma se assemelha a de um triângulo.
Essa região é um lugar propício para a formação de fenômenos de calor extremo. Isto porque o seu formato, a continentalidade da região central da Argentina, os Andes a oeste e os dias com mais de 14 horas de sol fornecem as condições ideais para a formação de uma massa de ar quente e seca.
Os ventos que veem do oeste se aquecem ao descerem a Cordilheira dos Andes, aumentam a sensação de calor e contribuem para o fenômeno. Além disso, a estiagem histórica que atinge, principalmente, a Argentina e partes do Rio Grande do Sul desde janeiro de 2020, as mudanças climáticas globais e os efeitos do La Niña também o favorecem.
De acordo com o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, publicado em setembro de 2021, “é virtualmente certo que extremos de calor (incluindo ondas de calor) tornaram-se mais intensos e mais frequentes em todas as regiões terrestres desde os anos 1950”. O documento também afirma que “alguns extremos de calor observados na última década seriam extremamente improváveis de ocorrer sem a influência humana no sistema climático”.
Afinal, o que são ondas de calor?
Uma onda de calor corresponde a um período de, no mínimo, três dias excessivamente quentes, com temperaturas máximas superiores à média usual para a época. Esses dias também podem ser excessivamente úmidos.
As ondas de calor são eventos que afetam diretamente a sociedade, pois oferecem riscos à saúde da população, aumentando problemas circulatórios, cardíacos, respiratórios como bronquite e asma, e causando embaralhamentos da visão e tonturas. Ademais, criam condições propícias à propagação de incêndios florestais.
Para se proteger, deve-se evitar a exposição ao sol direto, evitar bebidas alcoólicas ou muito açucaradas, usar roupas leves e de cor clara, permanecer em lugares ventilados ou resfriados e ingerir muito líquido.
Além de cuidar da nossa saúde, a solução a longo prazo passa justamente por evitar que o clima do planeta aumente ainda mais. Por exemplo, não desmatar e preservar os leitos dos rios e as florestas têm uma importância muito grande para o sistema climático da Terra.
Causa do calor extremo
Segundo Éder Maier, especialista em climatologia da América do Sul e membro do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as ondas de calor desse início de ano foi consequência da x instalada entre a Argentina e o Brasil. O especialista destaca que a baixa cobertura de nuvens e o tempo seco causam uma maior eficiência do sistema ambiental em converter a radiação solar em calor.
Esse calor extremo também pode ser classificado como um “extremo climático composto“. O termo é utilizado pelos meteorologistas para descrever eventos climáticos extremos simultâneos, concorrentes ou coincidentes, que podem levar a impactos ainda maiores para o meio ambiente e a população.
Alguns exemplos típicos de extremos combinados incluem seca associada a ondas de calor, inundações costeiras associadas a vento intenso, aumento do nível do mar por ciclones tropicais seguidos de ondas de calor, inundações que se seguem a ciclones extratropicais, entre outros.
No caso da América do Sul, um quadro de estiagem forte a severa acompanha a poderosa onda de calor. Enquanto a seca favorece as altas temperaturas, o calor também piora a estiagem.
Segundo alguns cientistas, a onda de calor é associada às fortes chuvas registradas na Bahia e em Minas Gerais, também no início do ano. Isto porque o bloqueio de alta pressão atmosférica impediu que as chuvas se deslocassem para o sul, fazendo com que elas ficassem retidas sobre as regiões nordeste e sudeste do Brasil.
Ademais, o fenômeno climático La Niña, que consiste no resfriamento anormal das águas superficiais do oceano Pacífico, também tem relação com o calor extremo. Esse fenômeno causa grandes mudanças climáticas em diferentes partes do mundo, inclusive na América do Sul.
Consequências das ondas de calor
Os agricultores sofreram bastante com as temperaturas elevadas causadas pelas ondas de calor na América do Sul. O sul do Brasil, o Uruguai e a Argentina tiveram danos irreparáveis.
O Uruguai sofreu bastante com incêndios florestais. As queimas atingiram cerca de 37 mil hectares no oeste do país. Esse foi o maior incêndio da história do país.
No Brasil, no Rio Grande do Sul, os prejuízos se espalharam pela produção de grãos, frutas, hortigranjeiros e leite. Já no sul da Argentina, onde as chuvas não acumularam nem 200 milímetros em todo o ano de 2021, a seca atingiu especialmente o polo portuário de Rosário, onde cerca de 80% das exportações agrícolas do país são carregadas.
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