As áreas de lazer desempenham um papel fundamental na conservação ambiental, pois facilitam uma conexão positiva entre as pessoas e a natureza. Projetadas para proporcionar atividades recreativas, possibilitam o envolvimento com o meio ambiente e a valorização dos recursos naturais.
Relação entre sociedade, ambiente e o lazer
Desde o desenvolvimento industrial, tem sido observado o crescimento populacional constante e o adensamento em centros urbanos. Este fenômeno marca uma mudança significativa na trajetória das sociedades, caracterizada pelo abandono das áreas rurais e um gradual distanciamento dos ambientes naturais. Desse modo, constata-se a perda progressiva do contato humano com o meio ambiente.
Segundo Raimundo e Sarti (2016), o homem vive e trabalha em ambientes fechados com condições controladas, como a climatização do local. Mesmo em ambientes abertos, o contato e o conhecimento do mundo natural é considerado restrito. Além disso, a rotina urbana em um mundo cada vez mais globalizado e competitivo muitas vezes leva as pessoas a enfrentarem jornadas exaustivas. Frente a isso, destaca-se a busca por lazer como uma resposta à necessidade de equilibrar o ritmo acelerado da vida urbana com momentos de tranquilidade.
O homem e o lazer
Um estudo realizado por Barbosa (2016) aponta um aumento significativo na busca por atividades de lazer. Associando-o às atividades realizadas fora do trabalho remunerado ou doméstico. Contudo, ao ampliar o seu sentido, pode-se atrelar à realização de atividades para melhorar o bem-estar e a qualidade de vida. Tais práticas estão intimamente ligadas à redução do estresse, ao desenvolvimento social, ao relaxamento do corpo e da mente, entre outros benefícios.
Ao considerar o lazer em áreas naturais, percebe-se uma variedade de possibilidades como caminhadas em trilhas, ciclismo em vias dedicadas, piqueniques em meio à natureza e aproveitamento de playgrounds naturais. Ainda, Raimundo e Sarti (2016) apontam que a busca por lazer que proporcionam contato com a natureza está crescendo. A exemplo, turistas que visitaram São Paulo por motivos de eventos e compras, elegeram o Parque do Ibirapuera e o Jardim Botânico entre os dez melhores pontos turísticos da cidade.
O homem e a natureza
Na década de 70, o psicanalista Erich Fromm apresenta o conceito de biofilia: gosto pela natureza, amor pelo o que está vivo e a capacidade de ver o todo (Lencastre; Marques, 2021). Mais tarde, em 1984, E. O. Wilson retoma o conceito ao destacar que o ambiente natural foi fundamental para a evolução da espécie humana. Portanto, ele está inscrito na sua memória filogenética. Por conseguinte, o seu afastamento traz impactos negativos para o homem (Lencastre; Marques, 2022). Dessa forma, é intrínseco à existência humana o contato com a natureza, seus recursos e com a biodiversidade.
Todavia, ao analisar o modo de vida humano, hábitos de consumo e produção, rapidamente se nota como o homem impacta o meio ambiente: desmatamentos, queimadas, diversos tipos de poluição (atmosférica, hídrica, sonora), etc. Nesse sentido, David Orr aponta a biofilia como uma esperança para a mudança do futuro, impondo limites em nossas ações e justificando o “despertar ecológico” atual – como o apoio à transição energética, leis ambientais e produções mais sustentáveis (Capra et al., 2006).
Hoje, os eventos climáticos extremos tem escancarado a necessidade desse despertar ecológico. Sendo, talvez, o medo de enxergar a espécie humana rumo à extinção um dos fatores que promovam a mudança do comportamento. Mesmo assim, é inegável que o contato com o meio ambiente fortalece a conservação ambiental.
Áreas de lazer e a conservação ambiental
Conforme exposto, as áreas de lazer podem ser consideradas um refúgio à agitação da vida urbana. Nesse sentido, ao desfrutar desses espaços e experienciar serviços ambientais, como um banho de floresta ou de cachoeira, as pessoas têm a chance de reconectar-se com a natureza. Consequentemente, desenvolve-se maior apreço pelo meio ambiente e fortalece o conceito de biofilia.
Dessa maneira, promove-se uma sensibilização do público sobre os cuidados com o ambiente natural e aumenta a conscientização sobre essa temática. No âmbito educacional, as áreas de lazer oportunizam atividades destinadas a conservação ambiental, como:
- Educação ambiental;
- Trilhas interpretativas e ecológicas;
- Observação da biodiversidade;
- Placas informativas;
- Programas de reciclagem e compostagem;
- Entre outros.
Além disso, possibilita também a implementação de proteção de áreas ameaçadas ou restauração de áreas degradadas. Podem contribuir para a gestão de recursos naturais, como água e energia, criação de corredores ecológicos, melhoria da qualidade do ar, preservação da biodiversidade, uso adequado de recursos naturais, etc.
Portanto, as áreas de lazer com características naturais são fundamentais não apenas para a saúde individual, mas também para a preservação dos ecossistemas e para a construção de sociedades mais sustentáveis e conscientes de sua interdependência com o meio ambiente.
O elo entre a recreação e a conservação
Em suma, as áreas de lazer devem ser vistas como aliadas à conservação ambiental, pois, são nesses espaços de recreação que se criam memórias vinculadas à natureza. Portanto, cria-se conexão em momentos leves e descontraídos através de experiências significativas. Nesse sentido, também fomenta o sentimento de cuidado e respeito pela natureza. Por isso, é essencial investir na proteção e no manejo sustentável desses locais, garantindo que as gerações presentes e futuras possam continuar desfrutando dos benefícios que a natureza tem a oferecer.
Referências
Barbosa. Tendências nas horas dedicadas ao trabalho e lazer: uma análise da alocação do tempo no Brasil. 2016.
Fritjof Capra e outros. Alfabetização ecológica: a educação de crianças para um mundo sustentável. Editora Cultrix. 2006.
Lencastre e Marques. Da Biofilia à Ecoterapia. A importância dos Parques Urbanos para a saúde mental. 2022.
Raimundo e Sarti. Parques urbanos e seu papel no ambiente, no turismo e no lazer da cidade. 2016.
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