As mudanças climáticas representam uma ameaça multidimensional, afetando não apenas o clima global, mas também os sistemas naturais e as atividades humanas. Assim, abordar esses desafios requer esforços coordenados em níveis global, nacional e local. Em suma, essa estratégia promoverá a sustentabilidade e a adaptação a um cenário climático em constante evolução.
Nos últimos anos, observamos um agravamento significativo das mudanças climáticas, manifestado por alterações nos padrões como altas temperaturas, secas prolongadas e chuvas intensas. Este texto examinará os impactos dessas mudanças para a biodiversidade, agricultura e recursos hídricos. Nesse sentido, vamos abordar algumas das principais transformações registradas.
Biodiversidade diante às mudanças climáticas
O aumento das temperaturas médias globais e as alterações nos padrões de precipitação desencadeiam transformações significativas nos ecossistemas florestais. Inclusive, as mudanças climáticas podem desencadear incêndios florestais mais frequentes e intensos, comprometendo a biodiversidade e contribuindo para a perda de habitats críticos. A saber, os incêndios florestais, cada vez mais recorrentes em várias partes do mundo, representam um dos impactos mais visíveis e devastadores do aquecimento global. No ano de 2023, foram aproximadamente 400 milhões de hectares com 6,5 bilhões de toneladas de CO2 liberado na atmosfera.
Incêndios florestais
Nos últimos anos, regiões como a Califórnia, na América do Norte, testemunharam eventos catastróficos com 9 mil incêndios em 2021. Além disso, a amplitude geográfica dos incêndios florestais causados pelo aquecimento global se estende à América do Sul como na Austrália e Chile. Em 2024, foi registrado um dos maiores incêndios florestais no Chile, causando a morte de 122 pessoas e, aproximadamente, 15 mil casas atingidas. De acordo com dados da BBC NEWS, os motivos para tamanha devastação é a combinação de secas prolongadas durante os últimos 15 anos, ventos fortes e altas temperaturas, densidade populacional sem infraestrutura adequada.
No Brasil, os ecossistemas como a Amazônia e o Pantanal enfrentam ameaças significativas, uma vez que o aumento das temperaturas e a redução das chuvas, na região amazônica, tornam a floresta mais suscetível a incêndios. Tais fatores resultam em danos irreparáveis à diversidade biológica e à capacidade do ecossistema de atuar como um regulador climático essencial. Ainda, o Pantanal, uma das maiores áreas úmidas do mundo, perdeu 1 milhão de hectares em 2023. Ademais, segundo dados do INPE, somam-se 2,5 milhões de hectares queimados nos biomas Cerrado e Amazônia.
Fauna
Com relação à fauna, as mudanças climáticas pode ser considerada a principal causa da extinção de espécies no século XXI. Atualmente, espécies estão migrando para latitudes mais altas ou altitudes maiores em busca de condições climáticas ideais, enquanto outras enfrentam o risco de extinção devido à perda de habitat e às mudanças abruptas no ambiente.
De forma geral, estima-se que 48 % da fauna está ameaçada de extinção. A exemplo, tem-se as abelhas que com o aumento das secas e mudança na floral das plantas, não encontram alimento, uma vez que o aumento da temperatura está causando perdas cognitivas. Enquanto, no bioma Mata Atlântica, considerado hotspost, 80 % das espécies arbóreas estão ameaçadas. Este cenário está, principalmente, relacionado ao fato de tais espécies serem endêmicas as condições bioclimáticas daquela região.
Ecossistemas aquáticos e as mudanças ambientais
Com o aumento da temperatura dos oceanos ocorre o processo de acidificação, reduzindo o pH da água e prejudicando os organismos marinhos, especialmente corais e moluscos. A saber, essa acidificação compromete ecossistemas inteiros e ameaça a segurança alimentar de comunidades dependentes da pesca. Também, os corais, fundamentais para a biodiversidade marinha, enfrentam um declínio preocupante devido ao branqueamento causado pelo aquecimento global.
Para além dos fatos supracitados, as consequências envolvem a perda de espécies marinhas, com destaque ao plâncton, peixes e baleias. Este fato se dá porque é o hábitat em que vivem, ou seja, parte superior das águas que estão aquecendo. Ao mesmo tempo, ainda ocorre a elevação do nível do mar e menor capacidade de absorção de CO2. Ademais, as mudanças nos padrões de chuva afetam ecossistemas de água doce, comprometendo a disponibilidade de recursos hídricos e influenciando diretamente a vida aquática.
Agricultura e segurança alimentar com as mudanças climáticas
As mudanças climáticas exacerbam os desafios enfrentados pela agricultura global. Em síntese, variações nos padrões climáticos, eventos extremos e a elevação das temperaturas favorece a propagação de pragas e doenças, as quais impactam negativamente a produção agrícola, causando maior risco na quebra de safra. A exemplo, a elevação das temperaturas pode diminuir a produtividade de culturas-chave, tais como, feijão, soja, algodão, arroz, milho e cana-de-açúcar, afetando a segurança alimentar em diversas regiões.
Alterações nos padrões de precipitação como consequência ao aquecimento global
A mudança climática altera a disponibilidade e distribuição de recursos hídricos, com implicações diretas para comunidades e ecossistemas. Secas prolongadas, inundações intensas e mudanças nos padrões de precipitação desafiam a gestão sustentável da água. A saber, regiões que já enfrentam escassez hídrica enfrentam desafios adicionais, enquanto áreas propensas a inundações lidam com impactos mais severos. A escassez hídrica pode intensificar conflitos e pressionar as atividades humanas, enquanto eventos extremos podem comprometer a qualidade da água.
No contexto, em 2023, a bacia Amazônica enfrentou problemas com a estiagem, batendo recordes pelo baixo volume de chuvas na região norte. Já, na região Sul do país as chuvas intensas e as enchentes. Ambos os exemplos implicam na junção entre o fenômeno natural El Niño e as consequências do aquecimento global, uma vez que eventos extremos como seca e chuva ficarão mais frequentes.
Temperaturas recordes e ondas de calor devido às mudanças climáticas
O aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera continua a impulsionar o aquecimento global. Nos últimos anos, testemunhamos recordes de temperatura em várias regiões do globo. Por exemplo, o Ártico, em particular, experimentou elevações alarmantes de temperatura, resultando no derretimento acelerado do gelo marinho e na ameaça à vida selvagem adaptada a essas condições únicas.
De acordo com o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as atividades humanas continuam sendo o principal impulsionador do aquecimento do planeta, com as concentrações de gases de efeito estufa atingindo níveis sem precedentes nos últimos séculos. O relatório apresenta projeções baseadas em diferentes níveis de emissões de gases de efeito estufa e políticas de mitigação. No entanto, para dar um exemplo geral, o relatório indica que, sob o cenário de emissões mais altas (RCP8.5), o aumento médio da temperatura global em relação aos níveis pré-industriais poderia exceder 1,5°C até o final do século XXI. Já sob cenários de emissões mais baixas e ações de mitigação significativas, espera-se que o aumento de temperatura seja limitado a valores mais baixos, embora ainda represente um desafio considerável para a adaptação e a redução de impactos.
Impacto das mudanças climáticas: uma comparação entre América do Norte e América do Sul
América do Norte:
Nos últimos anos, a América do Norte tem enfrentado impactos consideráveis das mudanças climáticas, com eventos extremos se tornando mais frequentes e intensos. A exemplo, incêndios florestais massivos têm assolado regiões como a Califórnia, resultando em perdas substanciais de vidas, propriedades e ecossistemas. Em suma, este evento tem relação direta com o aumento das temperaturas e a diminuição das chuvas, uma vez que contribuem para a propagação rápida desses incêndios.
Além disso, a ocorrência de furacões mais potentes e inundações devastadoras têm afetado áreas costeiras. A saber, a elevação do nível do mar, combinada com tempestades mais intensas, intensifica os riscos para comunidades vulneráveis. A região também enfrenta desafios na gestão da água, com secas prolongadas impactando a agricultura e a disponibilidade de recursos hídricos.
América do Sul:
Na América do Sul, as mudanças climáticas têm se manifestado de maneiras distintas, mas igualmente impactantes. O aumento das temperaturas está contribuindo para eventos climáticos extremos, como secas severas e inundações. A exemplo, o Pantanal, uma das maiores áreas úmidas do mundo, enfrentou incêndios significativos, comprometendo a biodiversidade única desse ecossistema.
Também, a região amazônica, vital para a regulação climática global, enfrenta desafios crescentes devido ao desmatamento e às mudanças climáticas. Em suma, o aumento da frequência e intensidade de secas pode levar a uma transformação irreversível da floresta em savana, com implicações significativas para o equilíbrio do ecossistema e para a biodiversidade.
Comparação:
Ambas as Américas enfrentam desafios relacionados às mudanças climáticas, mas as especificidades variam. Enquanto a América do Norte lida com incêndios florestais mais frequentes e furacões intensos, a América do Sul enfrenta ameaças específicas, como o desmatamento acelerado na Amazônia, os incêndios no Pantanal, secas prolongadas e chuvas intensas. Mesmo considerado que 2023-2024 tem-se a ocorrência do El Niño, o mesmo é considerado como o mais forte dos último anos. Este fato vem indicando que as mudanças climáticas estão favorecendo tais eventos.
Essa comparação destaca a necessidade de abordagens adaptadas às características regionais, enfatizando a importância da cooperação internacional para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. Ademais, a mitigação e a adaptação devem ser integradas nas políticas nacionais e regionais para construir resiliência diante desses desafios.
Considerações gerais das mudanças climáticas
Diante das conclusões alarmantes do IPCC e dos desafios globais evidenciados pela COP 28, fica claro que a mitigação das mudanças climáticas é uma prioridade urgente e coletiva. Para enfrentar esse desafio complexo, é essencial que governos, empresas, sociedade civil e indivíduos adotem medidas significativas e coordenadas. O IPCC destaca a importância de reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa por meio da transição para fontes de energia limpa e renovável, investindo em tecnologias de baixa emissão de carbono e promovendo a eficiência energética em todos os setores. Além disso, é crucial fortalecer os esforços de adaptação para proteger comunidades vulneráveis dos impactos das mudanças climáticas já em curso.
A COP 28, como fórum internacional de negociação climática, oferece uma plataforma vital para catalisar a ação climática global, promovendo a cooperação e o comprometimento dos países com metas ambiciosas de redução de emissões e resiliência climática. Contudo, é fundamental que os compromissos assumidos na COP sejam respaldados por políticas nacionais concretas, implementação eficaz e financiamento adequado para apoiar as medidas de mitigação e adaptação. Além disso, a participação ativa da sociedade civil e do setor privado é essencial para impulsionar a inovação, a conscientização pública e o engajamento em todos os níveis.
Proposta brasileira com relação ao agronegócio
O Brasil assumiu o compromisso na redução das emissões de GEE a partir do Plano ABC (Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura). De acordo com a EMBRAPA, essa política pública visa, principalmente:
- A recuperação de pastagens degradadas;
- Incentivar a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e sistemas agroflorestais (SAF‘s);
- Fortalecer o sistema de plantio direto (SPD);
- Aplicação de processos agrobiológicos;
- Fomentar as áreas de florestas plantadas;
- Tratamento de dejetos animais;
- Adaptação a mudanças climáticas.
No entanto, há um longo caminho a percorrer para que todas a cadeia do agronegócio esteja integrada, que reconheça a interconexão entre ações climáticas, desenvolvimento sustentável e justiça social. Ademais, somente por meio de esforços coletivos e decisivos podemos alcançar um futuro mais resistente, sustentável e equitativo para as gerações presentes e futuras.
Links relacionados
https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/mudanca-do-clima
http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/queimadas/situacao-atual/situacao_atual/
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