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Seleção de Árvores Nativas em Sistemas Silvipastoris Autóctones

Em 3 de dezembro de 2024

As árvores em pastagens fornecem produtos e serviços essenciais em vários contextos, como os econômico, cultural, familiar e ecológico. Esses serviços são vitais tanto para os agricultores quanto para as comunidades locais. No entanto, a percepção desses benefícios varia entre agricultores e outros envolvidos nos Sistemas Silvipastoris (SSP). Cada ator reconhece diferentes funções das árvores, como a atração de fauna, o fornecimento de sombra para o capim e o rebanho, a produção de frutos, o valor estético e a oferta de lenha, entre outras.

As espécies arbóreas mais comuns em pastagens cultivadas são geralmente aquelas de alto valor comercial. Por isso, muitas vezes, diferentes vivências e objetivos dos agricultores são responsáveis por impulsionar a decisão de implementar esses sistemas. Em geral, os proprietários rurais escolhem as espécies com base nos benefícios que consideram mais importantes. No entanto, vale ressaltar que, vários fatores socioambientais influenciam essas escolhas, e, portanto, que afetam o sucesso geral dos Sistemas Silvipastoris.

Fatores Ambientais e Benefícios dos Sistemas Silvipastoris para o Rebanho

Nos Sistemas Silvipastoris Autóctones (SSA), os agricultores são limitados a manter as espécies arbóreas que ocorrem naturalmente na região. Portanto, as variáveis ambientais, que determinam a ocorrência e a abundância das espécies nativas, influenciam fortemente a composição arbórea dessas paisagens produtivas. Em suma, fatores como temperatura, precipitação e características do solo são fundamentais nesse processo. Além disso, aspectos da paisagem, como a proximidade de cursos d’água, também desempenham um papel importante.

Variáveis ambientais tendem a modular a diversidade e a riqueza das espécies arbóreas em paisagens agropecuárias. Contudo, as interações entre esses fatores tornam suas influências ainda mais complexas. Como resultado, formam-se comunidades arbóreas distintas que condicionam a escolha e a estrutura das espécies remanescentes nos SSA. Nesse contexto, os agricultores que têm um bom conhecimento da ecologia das espécies podem, de maneira direta ou indireta, favorecer aquelas que são mais resistentes às variações climáticas.

Os pecuaristas também tendem a escolher as árvores remanescentes considerando os benefícios para os rebanhos, como conforto térmico, fornecimento nutricional e melhora na estabilidade da forragem. Árvores podem reduzir a radiação solar, ajudando a regular o microclima das pastagens, o que reduz o estresse térmico dos animais e pode melhorar a produção pecuária. Muitas árvores também fornecem forragem de alta qualidade, especialmente útil em épocas de seca, e melhoram a quantidade e qualidade nutricional da forragem.

guia de arvores

Fatores Socioeconômicos e Culturais dos Sistemas Silvipastoris

Critérios socioculturais também influenciam a decisão sobre quais árvores manter. Assim, algumas árvores têm importância cultural ou são valorizadas por sua idade, beleza e conexão com modos de vida tradicionais. Além disso, atividades recreativas e de ecoturismo, como observação de biodiversidade, podem melhorar a renda e a qualidade de vida local. Portanto, os Sistemas Silvipastoris Autóctones contribuem para promover a valorização da cultura local, segurança de populações tradicionais e igualdade de gênero. A falta de conhecimento sobre esses valores pode resultar em avaliações e planejamentos equivocados.

Do ponto de vista econômico, fatores como o tamanho da propriedade têm um impacto significativo nas decisões sobre as árvores que permanecem nos Sistemas Silvipastoris Autóctones. Por exemplo, grandes propriedades voltadas para a pecuária em larga escala, e focadas na produção animal, tendem a desbastar mais a vegetação arbórea. Isso geralmente é feito com o intuito de reduzir a competição com a forragem, favorecendo o crescimento da pastagem. Entretanto, uma drástica redução na diversidade local ocorre paralelamente.

Por outro lado, pequenas propriedades costumam manter espécies que fornecem produtos florestais não madeireiros (PFNM), como frutas, que servem de alimento e fonte de renda para as famílias. Além disso, algumas espécies são selecionadas com base no valor madeireiro, seja para lenha ou madeira serrada. Portanto, a classe socioeconômica dos agricultores desempenha um papel importante nesse processo. Agricultores em situações socioeconômicas menos favorecidos tendem a focar mais em garantir a segurança alimentar tanto para as pessoas quanto para o rebanho, influenciando a seleção e a densidade das espécies.

Valor Potencial de Exploração Sustentável (VPES) e Sustentabilidade nos SSA

Ainda sob o escopo econômico, o pagamento por serviços ambientais (PSA) é uma iniciativa global recente para promover sistemas produtivos mais sustentáveis e biodiversos. A ideia é que os agricultores possam ser remunerados pelo fornecimento de serviços ambientais, incentivando uma gestão eficaz dos Sistemas Silvipastoris Autóctones e a seleção de espécies que melhor os oferecem. Esse mecanismo permitiria que grupos familiares socioeconomicamente vulneráveis adotassem práticas mais sustentáveis.

A abordagem ranqueia as espécies em um espectro de usos e aplica uma escala de valores normalizada para vários critérios. Entre esses critérios podemos citar aspectos como a parte usada, densidade de árvores, taxa de produção de sementes e conhecimento ecológico. Com o VPES, os agricultores podem compreender melhor as potencialidades econômicas e ecológicas das espécies e, com isso, a implantação dos Sistemas Silvipastoris Autóctones para usos múltiplos é incentivada. Portanto, essa abordagem permite uma escolha de espécies baseada em critérios ecológicos e econômicos. Assim, ela contribui para a adoção de práticas de manejo que maximizam a diversidade e o uso múltiplo das árvores em pastagens.

Essa abordagem utiliza um sistema de ranqueamento para classificar as espécies, considerando um espectro de usos possíveis e aplicando uma escala de valores normalizada para diferentes critérios. Esses critérios incluem a parte da árvore utilizada, a densidade de árvores, a taxa de produção de sementes e o conhecimento ecológico de cada espécie. Com o VPES, os agricultores ganham uma compreensão mais profunda das potencialidades econômicas e ecológicas das espécies. Isso, por si só, facilita a implantação de Sistemas Silvipastoris Autóctones para usos múltiplos.

Além de ajudar na escolha das espécies, com base em critérios ecológicos e econômicos, essa metodologia também contribui para implantação de práticas de manejo que maximizam a diversidade e o uso múltiplo das árvores em pastagens. Assim, o VPES facilita a integração entre produção animal e conservação ambiental, promovendo a sustentabilidade das paisagens agropecuárias.

Tomadas de decisão

O uso de critérios múltiplos para a tomada de decisão em Sistemas Silvipastoris Autóctones promove maior diversidade, tanto econômica quanto ecológica, nas paisagens. Em SSAs com estratos arbóreos de uso múltiplo, a riqueza de espécies pode ser comparável à diversidade encontrada em florestas secundárias em sucessão intermediária, alcançando uma diversidade similar à das florestas iniciais. Esses sistemas funcionam como refúgios importantes para a conservação de espécies nativas. Apesar disso, o desafio representado pela presença de espécies exóticas pode comprometer a biodiversidade local.

A diversidade de usos da terra pode resultar em uma maior riqueza de árvores em paisagens agropecuárias, superando até mesmo as florestas remanescentes em alguns casos. No geral, estudos indicam que a escolha de espécies é mais eficiente do ponto de vista econômico e ecológico. Por fim, essa seleção ainda mais promissora quando é fundamentada no contexto socioambiental dos Sistemas Silvipastoris Autóctones.

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Autor(a)

Técnico Florestal pelo Instituto Federal de Rondônia e Engenheiro Florestal pelo Instituto Federal de Mato Grosso. Desde o início de sua carreira sempre apresentou entusiasmo pela parte de taxonomia, botânica e dendrologia. Durante a graduação conduziu estudos sobre a vegetação de Cerradão na Região de Cáceres – MT, onde atuou como consultor em botânica e dendrologia, colaborando na elaboração de laudos fitossociológicos. Participou de inventários florestais para pesquisas no Cerrado, trabalhando principalmente com estrutura de comunidades arbóreas. Mestre em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa, onde atualmente é doutorando, com concentração na área de Manejo Florestal, desenvolvendo sua pesquisa sobre a distribuição e modelagem do estoque de carbono em florestas secundárias da Mata Atlântica na Zona da Mata Mineira.
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