Áreas úmidas, também conhecidas como Zonas Úmidas, são zonas de fronteira entre ambientes aquáticos e terrestres, continentais ou costeiros, naturais ou artificiais. Assim, essas regiões possuem o solo encoberto por água, periodicamente ou durante todo o ano. Esses ecossistemas possuem altíssima relevância ecológica e são fundamentais para a manutenção dos estoques de água no mundo, por isso preservar as áreas úmidas é tão importante. Além disso, estas áreas contribuem para o equilíbrio climático e são provedores de serviços ambientais indispensáveis para a produção de alimentos.
Charcos, pântanos, turfas, várzeas, igapós, mangues e buritizais são exemplos de Áreas Úmidas. Um fator determinante para a caracterização dessas áreas é a relação intrínseca da água com a vida vegetal e animal. A maior planície alagável do planeta, partilhada por três países – Brasil, Paraguai e Bolívia – é o Pantanal.
Convenção Ramsar
O conceito de área úmida, bem como a data dedicada a este ambiente natural (02 de fevereiro), surgiu durante a Convenção de Ramsar, em 1971, no Irã, quando diversas nações se comprometeram na conservação e no uso sustentável dessas regiões. Em junho de 2021, haviam 171 países signatários do tratado.
A princípio, a Conversão foi criada para proteger os habitats aquáticos importantes para a conservação de aves migratórias, sendo denominada “Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional, especialmente como Habitat para Aves Aquáticas”. Porém, ao longo do tempo, ampliou sua preocupação com as demais áreas úmidas de modo a promover sua conservação e uso sustentável, bem como o bem-estar das populações humanas que delas dependem. Como resultado disso, a Convenção considerou as áreas úmidas de importância mundial como sendo Sítios Ramsar.
O Brasil assinou a Convenção de Ramsar em 1993. Desde sua adesão à Convenção, o Brasil promoveu a inclusão de 27 Sítios na Lista de Ramsar. Desses, 24 correspondem a Unidades de Conservação, ou parte delas, e três são formados por Unidades de Conservação, Terras Indígenas e APP(àrea de proteção permanente). Estas são áreas reconhecidas internacionalmente como importantes para a conservação e uso sustentável das áreas úmidas.
Por que preservar as áreas úmidas?
De acordo com o Relatório Ramsar divulgado em 2018, as áreas úmidas abrigam cerca de 40% das espécies de todo o mundo. Inclusive, fornecem água e alimento para mais de 1 bilhão de pessoas. Ademais, chegam a absorver e estocar 50 vezes mais carbono da atmosfera do que as florestas tropicais.
Também, a Secretaria da Convenção Ramsar (Ramsar Convention Secretariat) aponta as áreas úmidas como o ambiente mais produtivo do mundo, em razão da imensa diversidade ecológica e importante fornecimento de água, essenciais para o crescimento de inúmeras espécies de plantas e animais, portanto tais áreas demonstram a sua importância na manutenção dos processos ecológicos essenciais e de sistemas de suporte da vida, na preservação da diversidade genética e na utilização sustentável de espécies de ecossistemas. Os benefícios das áreas úmidas são:
– Manutenção dos processos ecológicos essenciais e de sistemas de suporte da vida: algumas mantêm e aumentam a qualidade da água, algumas regulam os fluxos para a redução de inundações e podem aumentar os fluxos dos córregos no final do verão e algumas atuam como recarrega de águas subterrâneas.
– Preservação da diversidade genética: exercem um papel essencial na manutenção das populações de animais silvestres, fornecendo habitats chave para uma fauna e flora diversa.
– Utilização sustentável de espécies e ecossistemas: muitas economias locais ou provinciais dependem diretamente dos recursos das áreas úmidas, tais como peixes e animais silvestres, produtos florestais e madeira. Recursos renováveis associados com áreas úmidas são centrais para o modo de vida tradicional de subsistência de populações nativas e indígenas. As áreas úmidas também sustentam considerável turismo e atividades recreacionais, tais como caça, pesca, observação de pássaros e fotografia da natureza.
Áreas úmidas e mudanças climáticas
As áreas úmidas são um auxílio muito grande no combate aos efeitos das mudanças climáticas. Elas ajudam na proteção contra eventos severos de secas e cheias, funcionando como “esponjas”. Em outras palavras, nos períodos de cheia, absorvem e armazenam a água em excesso que chega nos ambientes. Já no período seco, devolvem essa água, aos poucos, ao sistema natural. Portanto, ajudam a amortecer impactos, diminuindo a gravidade das secas e cheias.
Por outro lado, é importante ressaltar que essas áreas também sofrem com as mudanças climáticas. O grupo de pesquisa Mauá, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia(INPA), percebeu que em anos de El Niño, quando ocorre uma diminuição das chuvas, os igapós ficam secos demais e se tornam muito suscetíveis ao fogo. Já nos anos de cheias severas, em que os níveis mínimos dos rios ficam muito elevados, as florestas alagáveis em terrenos mais baixos chegam a ficar dois anos ou mais inundadas. Algumas espécies de árvores não têm capacidade para aguentar esse tempo todo e acabam morrendo.
Ameaças às áreas úmidas
O maior perigo para as áreas úmidas são as mudanças no uso de terra e as mudanças do clima. Quando esses dois fatores atuam juntos, os ecossistemas ficam muito mais vulneráveis, seja pelo excesso ou pela falta de água. Como resultado, algumas espécies endêmicas podem ser extintas num nível regional.
Além disso, outros problemas atingem essas áreas, como a poluição das águas pelos esgotos e resíduos domésticos; drenagens recorrentes de atividades agropecuárias, construção civil e exploração desordenada de recursos naturais; a mineração, que joga dejetos nesses espaços; a construção de hidrelétricas, que muda o regime hidrológico das áreas úmidas; a exploração indevida de recursos naturais, como peixes e madeiras, e o desmatamento nas cabeceiras.
Como preservar as áreas úmidas
Nas últimas décadas, o Brasil se dedicou na criação de Unidades de Conservação de diferentes tipos. Hoje em dia, mais de 50% da Amazônia é área protegida, como Unidades de Conservação e Terras Indígenas. Esses territórios possuem grandes complexos de áreas úmidas que estão sob algum grau de cuidado.
Uma plataforma importante é o Comitê Nacional de Zonas Úmidas (CNZU), criado pelo Ministério de Meio Ambiente (MMA) em 2003. Esse comitê é responsável por propor ao MMA diretrizes e ações de execução, relativas à conservação, ao manejo e ao uso racional dos recursos ambientais desses ambientes. Além disso, é responsável por divulgar a Convenção de Ramsar e incentivar a participação da sociedade na sua implementação.
Nós também podemos ajudar a preservar as áreas úmidas tendo cuidado com os resíduos e com o lixo e evitando o desmatamento das margens de rios. A preservação e conservação dessas áreas ultrapassa os limites ambientais, incorporando valores culturais e sociais intimamente relacionadas a existência e subsistência da vida humana.
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